junho 30, 2012

Animais, meus irmãos - Edgar Kupfer-Koberwitz

 
As páginas seguintes foram escritas no campo de concentração de Dachau, em meio a todo tipo de crueldades. Elas foram furtivamente escritas na barraca do hospital onde fiquei durante minha doença, em um tempo em que a morte nos tocava dia após dia, quando perdemos 12 mil pessoas em quatro meses e meio.
Querido Amigo,

Você me perguntou porque eu não como carne e você está imaginando as razões do meu comportamento. Talvez você pense que eu tenha feito votos – algum tipo de penitência – recusando todos os gloriosos prazeres de comer carne. Você pensa em filés com molhos, peixes suculentos, deliciosos presuntos defumados, e outras milhares de preparações cárneas que seduzem milhares de paladares humanos. Então você vê que eu estou recusando todos estes prazeres e você pensa que somente penitência, um solene voto, um grande sacrifício, poderia me levar a recusar esta maneira de aproveitar a vida, suportando com grande resignação.

Você parece atônito e me pergunta: “Mas por quê e para quê? E você fica imaginado que quase adivinha a verdadeira razão. Mas se eu estou, agora, tentando lhe explicar a verdadeira razão, em uma frase concisa, você ficará atônito mais uma vez porque o seu palpite estava tão distante do meu real motivo. Escute o que eu tenho a lhe dizer.

Eu me recuso a comer animais porque eu não posso me alimentar do sofrimento e da morte de outras criaturas.

Eu me recuso a fazer isto porque eu mesmo sofri tão dolorosamente que eu consigo sentir as dores dos outros pela lembrança dos meus próprios sofrimentos.

Eu sou feliz, ninguém me persegue; por que eu deveria perseguir outros seres ou causar-lhes sofrimento?

Eu sou feliz, eu não sou um prisioneiro; por que eu devo transformar outras criaturas em prisioneiros e jogá-las em jaulas?

Eu sou feliz, ninguém está me machucando; por que eu deveria machucar os outros ou permitir que sejam machucados?

Eu sou feliz, ninguém me maltrata; ninguém vai me matar; por que eu deveria maltratar ou matar outras criaturas ou permitir que sejam maltratadas ou mortas para meu prazer e conveniência?

Não é natural que eu não inflija a outras criaturas a mesma coisa que eu espero, e temo, nunca seja imposta a mim?

Não é a coisa mais injusta fazer estas coisas aos outros sem nenhum propósito além do gozo deste insignificante prazer físico, às custas de mortes e tormentos?

Estes seres são menores e mais desprotegidos do que eu, mas você pode imaginar um homem racional, de sentimentos nobres, que basearia-se nestas diferenças para afirmar o direito de abusar da fraqueza ou da inferioridade de outros?

Você não acha que é justamente o dever do maior, do mais forte, do superior, de proteger a criatura mais fraca ao invés de matá-la?

Esta carta foi escrita por Edgar Kupfer-Koberwitz.
Edgar Kupfer-Koberwitz.
abçs,

2 comentários:

  1. Lindo e emocionante.

    Adorei.

    Elaine

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  2. Soninha: que beleza de mensagem! Toca ao coração.
    Abraços.
    Bom final de semana.

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