Foto: Ronald Mendes / Agencia Rbs
O que faz os tutores se tornarem tão especiais para alguns animais? Em Santa Maria, desde a último domingo, uma cachorra SRD espera seu tutor no portão. Há cerca de uma semana, debaixo de sol ou chuva, a cadela Nina sobrevive porque vizinhos levam água e comida. Seu tutor, um papeleiro de 63 anos, acabou sendo preso por ser suspeito de assassinar seu vizinho na Avenida Independência, próximo da esquina com a Rua Silva Jardim, no bairro Passo D’Areia.
Na madrugada seguinte ao crime, um incêndio acabou destruindo a casa onde o papeleiro morava. No local, um outro cachorro acabou morrendo após inalar fumaça. Sem julgamentos ou sanções, Nina passa o dia em frente ao que sobrou das chamas e à espera do que era sua família.
Para os veterinários, uma das explicações é que o animal permanece no local por essa ser a sua rotina e referência territorial. Contudo, todos também são unânimes : há vínculo emocional e os animais podem, sim, sentirem saudade.
E essa fidelidade entre um cachorro e um ser humano desafia a própria ciência. Não faltam histórias que acabam servindo de roteiros para o cinema ou para livros, como lembra o veterinário Clóvis Antônio Ames, ao citar o filme Sempre ao Seu Lado. Já a veterinária Daniela Silveira, menciona casos semelhantes em que os cachorros procuram hospitais ou cemitérios após a morte dos tutores. Ela também defende a existência de uma “saudade animal”.
“É uma soma de fatores. Há o apego à casa e à pessoa. É como se o animal estivesse esperando o tutor que foi viajar”, acrescenta o professor de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), João Cesar Antônio Dias.
Segundo o comerciante Edgar Nunes Gonçalves Souza, 23 anos, a cadela vivia na companhia do tutor há mais de cinco anos. Souza, que também era vizinho do papeleiro, relata que o homem costumava dar banho, dividir a própria comida e dormir no mesmo cômodo dos cachorros:
“A gente cuida dela. Independentemente de qualquer coisa, ele era muito bom para os cachorros. Ele saia para catar lixo pela cidade e os animais estavam sempre juntos”.
O adestrador e consultor comportamental de cães, Marcelo Ilha tem mais uma explicação:
“A natureza canina exige a convivência em matilha. Para eles, não há uma diferenciação entre as espécies. Por isso, o humano geralmente assume um papel de líder da matilha. E eles sentem a falta, o sentimento de perda, fazendo com que essa relação seja entendida como saudade”, esclarece Ilha, que também é acadêmico de medicina veterinária.
Saudade ou apenas referência de território, o fato é que Nina segue cabisbaixa, chamando a atenção da vizinhança e se negando a sair do local onde viu seu tutor pela última vez.
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