A polícia angolana está à procura de dois homens acusados de terem matado uma tartaruga de couro, espécie em extinção em Angola e que se encontrava a desovar numa praia, da Ilha de Luanda.
O administrador do bairro da Ilha do Cabo, Paulo Neto, que deu a conhecer o caso, referiu que o crime ocorreu no domingo.
Paulo Neto salientou que a tartaruga, com 70 quilogramas, foi capturada, morta e esquartejada por dois supostos pescadores.
“Surpreendidos por agentes da Polícia Nacional, que patrulhavam a zona, à noite, os dois elementos, seguramente residentes na região, meteram-se em fuga”, referiu Paulo Neto.
O responsável, em declarações à agência noticiosa angolana, Angop, disse que o surgimento de tartarugas marinhas é frequente por esta altura do ano para a desova.
Segundo o chefe do departamento de biodiversidade do Ministério do Ambiente, Alexandre Sá, a tartaruga morta é da família “Dermocheli Corácea” ou tartaruga de couro, espécie em perigo de extinção em Angola. “O Ministério do Ambiente em parceria com a Universidade Agostinho Neto está a materializar um projeto junto das comunidades costeiras do país, que visa a conservação destas espécies”, referiu.
A tartaruga de couro, considerada a mais rara do mundo e que chega a pesar 900 quilogramas, pode estar em risco de desaparecer em Angola, enfrentando atualmente uma situação “caótica” de ameaça e número reduzido de desovas.
O alerta foi transmitido à Lusa, em junho, por Miguel Morais, coordenador do projeto “Kitabanga”, tartaruga gigante na língua nacional quimbundo, que estuda e investiga os cinco tipos de tartarugas marinhas presentes ao longo da costa angolana.
O projeto “Kitabanga”, nome pelo qual é conhecida em Angola a tartaruga de couro, acompanha a desova de outras duas espécies ao longo da costa, a tartaruga verde (quase 1,25 metros de comprimento e 230 quilogramas) e a tartaruga oliva, com sete estações de amostragem permanentes para acompanhamento, distribuídas entre as províncias do Zaire, Bengo, Luanda, Benguela e Namibe.
“Angola está entre as praias com alguma densidade de desova para a tartaruga de couro. Mas temos verificado uma diminuição considerável ao longo do tempo. Para dar um exemplo, nos pontos de amostragem tivemos no ano passado oito animais e este ano apenas um. Antes tínhamos cerca de 100”, explicou o especialista e coordenador daquele projeto de conservação, da Universidade Agostinho Neto.
A desova desta espécie de tartaruga, que chega aos dois metros de comprimento e que está “criticamente ameaçada” em Angola, acontece por norma de outubro a março, colocando em média 80 ovos na praia.
Além disso, os especialistas acompanham a situação da tartaruga de oliva, que chega aos 72 centímetros e 45 quilogramas e cujas praias de Angola são as principais para desova na costa ocidental de África, estando igualmente ameaçada.
“De uma forma geral, a situação das tartarugas em Angola não é saudável. Assiste-se a uma pressão muito grande, não só por predação direta, do ponto de vista antrópico, mas também por efeito dos impactos indiretos associados à pesca”, explicou.
*Esta notícia foi escrita, originalmente, em português europeu e foi mantida em seus padrões linguísticos e ortográficos, em respeito a nossos leitores.
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